Sim. Até mais que o ar externo. Saiba como fazê-lo trabalhar a seu favor
Fonte: Revista Época

Aparelho de ar condicionado doméstico. Cuidados simples, mas essenciais
Se você trabalha em escritório, frequenta shoppings e faz compras em supermercados, deve passar pelo menos 50% de sua vida em ambientes climatizados, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse porcentual deverá aumentar para 65% nos próximos dez anos com os efeitos do aquecimento global.

A temperatura amena aumenta a produtividade no trabalho e estimula o consumo da população. Também pode ajudar a preservar a saúde de quem está fragilizado. O aparelho de ar condicionado se tornou, nos últimos tempos, um aliado da medicina. Os mais modernos monitoram a quantidade de fungos e bactérias. Nos hospitais, aceleram em 20% a recuperação de pacientes queimados e já são recomendados a idosos e crianças em dias com variação extrema de temperatura. Com tantas aplicações importantes, por que o sistema de ar condicionado se tornou, para tanta gente, um dos vilões da vida saudável?

Boa parte das pessoas que convivem em ambientes climatizados reclama da qualidade do ar. Elas se queixam principalmente de coceira nos olhos, dor de cabeça e ressecamento das vias respiratórias. Um estudo da Universidade de Michigan revelou outros 47 sintomas supostamente associados ao mau funcionamento do sistema de refrigeração. As reclamações têm fundamento?

Mais da metade dos sistemas de ar condicionado do país não funciona segundo as normas internacionais. Os ambientes são mais secos e poluídos do que recomenda a OMS. Uma pesquisa feita pela Nalco, multinacional que trabalha com qualidade de ar de interiores, mostra que no topo do ranking de insalubridade estão os bancos, seguidos pelos hospitais e escritórios. A empresa avaliou quase 18 mil estabelecimentos coletivos com sistema de ar condicionado no país.

A situação que a pesquisa constata está longe de ser revertida. Na última década foram estabelecidas leis para limitar a quantidade de gases, umidade e demais poluentes em ambientes climatizados. Nem a ameaça de multas – que podem chegar a R$ 200 mil – criou o hábito de investir em manutenção. “As pessoas raramente verificam a condição das peças”, diz o engenheiro Edua

A falta de cuidados fica ainda mais evidente no inverno. Isso acontece porque os sistemas centrais são programados para ligar apenas quando a temperatura está abaixo da média considerada padrão: entre 21 e 23 graus. Assim, o ar passa parte do tempo desligado e as janelas lacradas enquanto as pessoas respiram e exalam gás carbônico. A quantidade de CO2, fungos, bactérias e partículas sólidas atinge níveis perigosos. Os efeitos no organismo podem ir além das reações alérgicas (como mostra a ilustração abaixo), principalmente para quem já tem predisposição a alergias ou está com a imunidade baixa.

Já existem trabalhos científicos que relacionam doenças ao mau uso do aparelho de ar condicionado. O primeiro caso registrado acometeu 123 hóspedes de um hotel da Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1976. Eles foram hospitalizados depois de ser infectados por uma bactéria chamada Legionella pneumophila, encontrada em torres de água refrigerada sem manutenção. Boa parte dos contaminados tinha mais de 60 anos e 29 deles morreram.

Para que o aparelho de ar condicionado cumpra sua finalidade sem problemas, é importante não só que ele esteja regulado, mas que as condições do local sejam adequadas. Água acumulada nos vasos, poeira de carpetes, excesso de papel nas lixeiras, paredes recém-pintadas e produtos de limpeza podem liberar substâncias alérgicas que vão circular pelo sistema de tubulação. Para ter uma ideia, o cigarro, sozinho, libera 6.700 elementos tóxicos e rapidamente torna o ambiente coletivo insalubre, de acordo com a OMS. Os filtros do aparelho de ar condicionado não dão conta de barrá-los. Nos sistemas de ar condicionado das empresas, por exemplo, o que circula a cada momento é uma combinação de 90% de ar interno e 10% de ar externo. Se a proporção de ar de fora aumenta, melhor para a saúde.