Fonte: Dra. Andrea Arvai Pereira e Dr. Wlademir Pereira Júnior, Pneumologistas do
Núcleo Avançado de Tórax do HSL
Boletin do NAT – Hospital Sirio Libanes

Nas últimas décadas, devido ao processo progressivo de urbanização, as pessoas costumam passar mais de 90% do tempo dentro de casa ou escritório.

A cidade de São Paulo, durante a maior parte do ano, apresenta não somente temperaturas elevadas (15°C a 35°C), como também umidade relativa do ar bastante alta (60% a 95%). Consequentemente, para se evitar tais situações, o ar condicionado tem sido cada vez mais utilizado. Embora traga conforto e bem-estar, o ar-condicionado traz alguns prejuízos para o aparelho respiratório.

Os possíveis efeitos adversos do ar condicionado decorrem de fatores tanto relacionados ao aparelho em si (odores, contaminantes biológicos – bactérias, fungos, amebas, compostos orgânicos
voláteis e toxinas bacterianas) quanto aos usuários (presença ou não de alergias).

Os indivíduos alérgicos podem manifestar sintomas como asma, tosse seca, falta de ar, chiado, além de opressão no peito, rinite alérgica marcada por crises de espirros, coriza, obstrução e coceira nasal, conjuntivite alérgica, caracterizada por coceira e vermelhidão nos olhos, sensação de areia e lacrimejamento.

É interessante perceber que os efeitos do ar condicionado são variáveis nos indivíduos alérgicos. Por exemplo, muitos asmáticos são sensíveis aos ácaros, que sobrevivem devido à umidade
do ar. Estes poderiam ter sua concentração no ambiente bastante diminuída com o uso do ar condicionado, que tende a reduzir a umidade. Por outro lado, o próprio ar seco é extremamente irritante
para a mucosa nasal, podendo desencadear também crises de rinite e conjuntivite.

Não se pode esquecer que pessoas não alérgicas também podem apresentar problemas respiratórios quando expostas ao ar condicionado. Desde a “febre do umidificador” – mal-estar leve que aparece em geral no primeiro dia da semana de volta ao trabalho – até o “pulmão do umidificador” – quadro mais grave, que se assemelha a uma gripe forte, que aparece entre quatro e seis horas após a exposição, caracterizado por febre alta, dores no corpo, calafrios, dor de cabeça, tosse e falta de ar. Os pacientes com febre
do umidificador apresentam as “Pneumonias de Hipersensibilidade”, que aparecem devido à exposição dos indivíduos a pequenas gotas de água contaminadas por bactérias (Actinomyces thermophilic) ou amebas (Naegleria gruberi), que estavam no sistema de refrigeração do sistema do aparelho e foram borrifadas no meio ambiente.

Em 1976, na Filadélfia (Estados Unidos), cem delegados que participaram de uma convenção da “American Legion” apresentaram quadro de pneumonia, que resultou em quatro mortes. Este foi o primeiro surto descrito sobre a contaminação da água utilizada para a refrigeração das unidades de ar por um organismo aquático, a Legionella pneumophilia, responsável por inúmeros casos simultâneos de pneumonia.

Não há evidências de que este tipo de pneumonia possa ser transmitido de pessoa a pessoa e, portanto, quando aparecem casos, a origem do organismo tem sido a água contaminada dos aparelhos de ar condicionado. Além disso, não existe comprovação científica de que a exposição ao ar condicionado, semelhantemente ao frio, poderia predispor ao aparecimento de pneumonias que não a provocada por legionella.

Apesar de o ar condicionado contribuir eficientemente para o conforto das pessoas, ele também acarreta problemas de saúde. E, a longo prazo, existem repercussões mais complexas, como o fato
de metade da energia consumida pelo trabalho de climatização ser simplesmente lançada na atmosfera na forma de calor, o que representa uma perda muito grande de energia e um prejuízo sem retorno para o ecossistema.